Ai! se
abrasado crepitasse o cedro,
Cedendo ao
raio que a tormenta envia:
Diz: — que
seria da plantinha humilde,
Que à sombra
dela tão feliz crescia?
A labareda
que se enrosca ao tronco
Torrara a
planta qual queimara o galho
E a pobre
nunca reviver pudera.
Chovesse
embora paternal orvalho!
Ai! se te
visse no calor da sesta,
A mão
tremente no calor das tuas,
Amarrotado o
teu vestido branco,
Soltos
cabelos nas espáduas nuas! ...
Ai! se eu te
visse, Madalena pura,
Sobre o
veludo reclinada a meio,
Olhos
cerrados na volúpia doce,
Os braços
frouxos — palpitante o seio!...
Ai! se eu te
visse em languidez sublime,
Na face as
rosas virginais do pejo,
Trêmula a
fala, a protestar baixinho...
Vermelha a
boca, soluçando um beijo!...
Diz: — que
seria da pureza de anjo,
Das vestes
alvas, do candor das asas?
Tu te
queimaras, a pisar descalça,
Criança louca
— sobre um chão de brasas!
No fogo vivo
eu me abrasara inteiro!
Ébrio e
sedento na fugaz vertigem,
Vil,
machucara com meu dedo impuro
As pobres
flores da grinalda virgem!
Vampiro
infame, eu sorveria em beijos
Toda a
inocência que teu lábio encerra,
E tu serias
no lascivo abraço,
Anjo enlodado
nos pauis da terra.
Depois...
desperta no febril delírio,
— Olhos
pisados — como um vão lamento,
Tu
perguntaras: que é da minha coroa?...
Eu te diria:
desfolhou-a o vento!...
Oh! não me
chames coração de gelo!
Bem vês:
traí-me no fatal segredo.
Se de ti fujo
é que te adoro e muito!
És bela — eu
moço; tens amor, eu — medo!...
Autor:
Casimiro de Abreu
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