sexta-feira, 12 de abril de 2013

Quando tu choras


Quando tu choras, meu amor, teu rosto
Brilha formoso com mais doce encanto,
E as leves sombras de infantil desgosto
Tornam mais belo o cristalino pranto.

Oh! nessa idade da paixão lasciva
Como o prazer, é o chorar preciso:
Mas breve passa - qual a chuva estiva -
E quase ao pranto se mistura o riso.

É doce o pranto de gentil donzela,
É sempre belo quando a virgem chora:
- Semelha a rosa pudibunda e bela
Toda banhada do orvalhar da aurora.

Da noite o pranto, que tão pouco dura,
Brilha nas folhas como um rir celeste,
E a mesma gota transparente e pura
Treme na relva que a campina veste.

Depois o sol, como sultão brilhante,
De luz inunda o seu gentil serralho,
E às flores todas - tão feliz amante -
Cioso sorve o matutino orvalho.

Assim, se choras, inda és mais formosa,
Brilha teu rosto com mais doce encanto:
- Serei o sol e tu serás a rosa...
Chora, meu anjo, - beberei teu pranto! 

Autor: Casemiro De Abreu

sábado, 6 de abril de 2013

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Algumas informações de poetas importantes do romantismo:



Antônio Gonçalves Dias - nasceu em 10 de agosto de 1823, na cidade de Caxias, Maranhão. Apesar de ter falecido com apenas 41 anos, Gonçalves Dias foi poeta, jornalista, advogado e teatrólogo. Estudou Direito na Universidade de Coimbra, Portugal, e após certo tempo distante da terra natal, escreve a Canção do exílio. Suas demais principais obras são: Ainda uma vez – Adeus; Sextilhas de frei Antão; Seus olhos; Os Timbiras; I-Juca-Pirama. Morre no dia 3 de novembro de 1864.

Manuel Antônio Álvares de Azevedo - nasceu em 12 de setembro de 1831, em São Paulo. Azevedo foi escritor, dramaturgo e poeta. Matriculou-se em Direito, mas não chegou a concluir o curso devido ao problema de tuberculose. Autor de Noite da Taverna, Azevedo tem como influência Lorde Byron, mas principalmente Alfred de Musset. Suas poesias são, portanto, carregadas de sarcasmo e ironia, sofrimento e dor. Sua principal obra é Lira dos Vinte Anos. Outras duas obras suas são: Macário, e O Conde Lopo. Morreu a 25 de abril de 1852, aos 20 anos de idade.

Antônio Frederico de Castro Alves - nasceu em 14 de março de 1847, na Bahia. Em 1868, Castro Alves vai para São Paulo com Eugênia Câmara – atriz portuguesa, e se matrícula no terceiro ano da Faculdade de Direito. Durante a comemoração da Independência, declama pela primeira vez o poema Navio Negreiro. Um ano mais tarde teve o pé amputado em consequência de um acidente com uma arma de fogo e retorna para a Bahia.
Castro Alves é conhecido como o “Poeta dos Escravos”, uma vez que suas poesias mostram a sua luta contra a escravidão. Apesar de ser considerado um poeta romântico, Castro Alves tem em seus traços literários, tendências da escola realista. Faleceu devido à tuberculose, no dia 6 de julho de 1871, aos 24 anos. Além de Navio Negreiro, suas principais obras são: Espumas Flutuantes; A Cachoeira de Paulo Afonso; Os Escravos e Hinos do Equador.

Luís José Junqueira Freire - nasceu em Salvador (BA), em 1832 e foi onde estudou Humanidades. Aos dezoito anos se tornou monge da ordem beneditina e permaneceu na vida religiosa por cerca de quatro anos. A clausura trouxe frustração e foi tema de suas poesias.
Junqueira Freire morreu com apenas vinte e três anos vítima de problemas cardíacos. Durante sua vida esteve dividido entre a vida religiosa, espiritual e a sua falta de fé e vocação para a vida celibatária. Suas experiências foram retratadas em suas duas obras poéticas: Inspirações do claustro e Contradições poéticas.
A decisão do autor por uma vida monástica foi em razão dos problemas de convívio familiar sofrido e suas poesias são marcadas por uma autobiografia reveladora.
Além disso, nos poemas de Junqueira Freire constam a crise moral da igreja do século XIX e os conflitos do escritor entre a profissão de frei e os fatos que presenciou dentro da igreja. O poeta ainda expressou em suas obras seu pessimismo em relação à vida, seu interesse pelo mundanismo, sua sexualidade reprimida, seu desejo pelo pecado e seu sentimento de culpa. Evocava ardentemente por cura de suas mazelas ao mesmo passo que desejava a morte, encarando-a como uma amiga que vinha para lhe trazer paz eterna.

Luís Nicolau Fagundes Varela - nasceu em Rio Claro, estado do Rio de Janeiro. Estudou direito em São Paulo, Expressava em seu semblante a dor de um homem poeta do mal-do-século. Tornou-se mais conhecido por seus poemas líricos, no fim da década de 1860, era considerado o maior poeta vivo, apesar de não conseguir viver de poesia.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Romantismo


O Romantismo foi marcado por dois acontecimentos históricos importantes: as Revoluções Industrial e Francesa. A vida social estava dividida entre a burguesia industrial e o surgimento da classe operária, os proletariados.

 A burguesia ganhava poder e o capitalismo se desenvolvia cada vez mais, enquanto os impérios feudais e a aristocracia que dependia deles encontrava-se em situação de calamidade. Era o fim do absolutismo na Europa (causado pelos dois movimentos revolucionários citados anteriormente) e o início da industrialização (que se espalhou por toda Europa).

O ideal da Revolução Francesa de liberdade, igualdade e fraternidade alcançou a América Latina e foi um marco para um período de independência nas colônias da Espanha e Portugal. Assim, houve a independência de: Paraguai, Argentina, Venezuela, Chile, Equador, Peru, México, Brasil, América Central, Bolívia e Uruguai.

Já na literatura, a fase romântica rompeu com a tradição clássica, imposta pelo período árcade, e apresentou novas concepções literárias, dentre as quais podemos apontar: a observação das condições do estado de alma, das emoções, da liberdade, desabafos sentimentais, valorização do índio, a manifestação do poder de Deus através da natureza acolhedora ao homem, a temática voltada para o amor, para a saudade, o subjetivismo.

Os principais autores românticos no Brasil são:

 • Poesia: Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire, Fagundes Varela, Castro Alves, Sousândrade.

• Prosa: Joaquim Manuel de Macedo, Manuel Antônio de Almeida, José de Alencar.

Idealização - Diego Neves


Uma mulher um dia eu encontrei
Linda como uma deusa muito bela
Tão delicada e tão frágil como um vidro
Na hora que a vi fui acertado com uma flecha

Eu não conseguia dormir pensando nela
Ela tinha uma pele branca que nem neve
Seus olhos azuis como céu me deixavam doido
Eu esta completamente apaixonada por ela

Todo dia a observo em frente de sua casa
Bonito e elegante espero ser notado
Sei que um dia talvez ela vai me amar
Mas se não amar não precisarei ser forçado
A me jogar da janela do meu quarto

Autor: Diego Neves Maniçoba

Soneto - Alessandro Viera

Menina que tanto amo 
Sonho da minha vida
Sol de todas as manhãs
Fruto da árvore proibida

Da tua boca sai o mel
Que dia após dia almejo provar
No mesmo instante volto ao chão
E percebo que não posso lhe tocar

Esse desejo que a tempo cultivo
Somente a morte pode ajudar
Para do meu peito essa dor aliviar

Ontem a ela consegui confessar
Um pouco desse paixão
Que a tempos carrego no olhar


Autor:Alessandro Vieira

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Amor e medo


Ai! se abrasado crepitasse o cedro,
Cedendo ao raio que a tormenta envia:
Diz: — que seria da plantinha humilde,
Que à sombra dela tão feliz crescia?

A labareda que se enrosca ao tronco
Torrara a planta qual queimara o galho
E a pobre nunca reviver pudera.
Chovesse embora paternal orvalho!

Ai! se te visse no calor da sesta,
A mão tremente no calor das tuas,
Amarrotado o teu vestido branco,
Soltos cabelos nas espáduas nuas! ...

Ai! se eu te visse, Madalena pura,
Sobre o veludo reclinada a meio,
Olhos cerrados na volúpia doce,
Os braços frouxos — palpitante o seio!...

Ai! se eu te visse em languidez sublime,
Na face as rosas virginais do pejo,
Trêmula a fala, a protestar baixinho...
Vermelha a boca, soluçando um beijo!...

Diz: — que seria da pureza de anjo,
Das vestes alvas, do candor das asas?
Tu te queimaras, a pisar descalça,
Criança louca — sobre um chão de brasas!

No fogo vivo eu me abrasara inteiro!
Ébrio e sedento na fugaz vertigem,
Vil, machucara com meu dedo impuro
As pobres flores da grinalda virgem!

Vampiro infame, eu sorveria em beijos
Toda a inocência que teu lábio encerra,
E tu serias no lascivo abraço,
Anjo enlodado nos pauis da terra.

Depois... desperta no febril delírio,
— Olhos pisados — como um vão lamento,
Tu perguntaras: que é da minha coroa?...
Eu te diria: desfolhou-a o vento!...

Oh! não me chames coração de gelo!
Bem vês: traí-me no fatal segredo.
Se de ti fujo é que te adoro e muito!
És bela — eu moço; tens amor, eu — medo!...


Autor: Casimiro de Abreu

Pepita


Minh'alma é mundo virge' - ilha perdida -
Em lagos de cristais;
Vem, Pepita, - Colombo dos amores, -
Vem descobri-lo, no país das flores
Sultana reinarás!

Eu serei teu vassalo e teu cativo
Nas terras onde és rei
A sombra dos bambus vem tu ser minha
Teu reinado de amor, doce rainha,
Na lira cantarei.

Minh'alma é como o pombo inda sem penas
Sozinho a pipilar;
- Vem tu, Pepita, visitá-lo ao ninho;
As asas a bater, o passarinho
Contigo irá voar.

Minh'alma é como a rocha toda estéril
Nos plainos do Sarah;
Vem tu - fada de amor - dar-lhe co'a vara...
- Qual do penedo que Moisés tocara
O jorro saltará.

Minh'alma é um livro lindo, encadernado,
Co'as folhas em cetim;
- Vem tu, Pepita, soletrá-lo um dia...
Tem poemas de amor, tem melodia
Em cânticos sem fim!

Minh'alma é o batel prendido à margem
Sem leme, em ócio vil
- Vem soltá-lo, Pepita, e correremos
- Soltas as velas - desprezando remos,
Que o mar é todo anil.

Minh'alma é um jardim oculto em sombras
Co'as flores em botão;
- Vem ser da primavera o sopro louco,
Vem tu, Pepita, bafejar-me um pouco
Que as rosas abrirão.

O mundo em que eu habito tem mais sonhos,
A vida mais prazer;
- Vem, Pepita, das tardes no remanso,
Da rede dos amores no balanço
Comigo adormecer.

Oh! vem! eu sou a flor aberta à noite
Pendida no arrebol!
Dá-me um carinho dessa voz lasciva,
E a flor pendida s'erguerá mais viva
Aos raios desse sol!

Bem vês, sou como a planta que definha
Torrada do calor.
- Dá-me o riso feliz em vez da mágoa...
O lírio morto quer a gota d'água,
- Eu quero o teu amor!


Autor: Casimiro de Abreu

Ilusões


Quando o astro do dia desmaia
Só brilhando com pálido lume,
E que a onda que brinca na praia
No murmúrio soletra um queixume;

Quando a brisa da tarde respira
O perfume das rosas do prado,
E que a fonte do vale suspira
Como o nauta da pátria afastado;

Quando o bronze da torre da aldeia
Seus gemidos aos ecos enviam,
E que o peito que em mágoas anseia
Bebe louco essa grave harmonia;

Quando a terra, da vida cansada,
Adormece num leito de flores
Qual donzela formosa embalada
Pelos cantos dos seus trovadores;

Eu de pé sobre as rochas erguidas
Sinto o pranto que manso desliza
E repito essas queixas sentidas
Que murmuram as ondas com a brisa.

É então que a minha alma dormente
Duma vaga tristeza se inunda,
E que um rosto formoso, inocente,
Me desperta saudade profunda.

Canto de Amor




Eu vi-a e minha alma antes de vê-la

Sonhara-a linda como agora a vi;

Nos puros olhos e na face bela,

Dos meus sonhos a virgem conheci.

 

Era a mesma expressão, o mesmo rosto,

Os mesmos olhos só nadando em luz,

E uns doces longes, como dum desgosto.

Toldando a fronte que de amor seduz!

 

E seu talhe era o mesmo, esbelto, airoso

Como a palmeira que se ergue ao ar,

Como a tulipa ao pôr do sol saudoso,

Mole vergando à viração do mar.

 

Era a mesma visão que eu dantes via,

Quando a minha alma transbordava em fé;

E nesta eu creio como na outra eu cria,

Porque é a mesma visão, bem sei que é!

 

No silêncio da noite a virgem vinha

Soltas as tranças junto a mim dormir;

E era bela, meu Deus, assim sozinha

No seu sono d'infante inda a sorrir!...

 

II

Vi-a e não vi-a! Foi num só segundo,

Tal como a brisa ao perpassar na flor,

Mas nesse instante resumi um mundo

De sonhos de ouro e de encantado amor.

 

O seu olhar não me cobriu d'afago,

E minha imagem nem sequer guardou,

Qual se reflete sobre a flor dum lago

A branca nuvem que no céu passou.

 

A sua vista espairecendo vaga,

Quase indolente, não me viu, ai, não!

Mas eu que sinto tão profunda a chaga

Ainda a vejo como a vi então.

 

Que rosto d'anjo, qual estátua antiga

No altar erguida, já cabido o véu!

Que olhar de fogo, que a paixão instiga?

Que níveo colo prometendo um céu.

Vi-a e amei-a, que a minha alma ardente

Em longos sonhos a sonhara assim;

O ideal sublime, que eu criei na mente,

Que em vão buscava e que encontrei por fim!

 

III

Pará ti, formosa, o meu sonhar de louco

E o dom fatal, que desde o berço é meu;

Mas se os cantos da lira achares pouco,

Pede-me a vida, porque tudo é teu.

 

Se queres culto - como um crente adoro,

Se queres culto - como um crente adoro,

Se preito queres - eu te caio aos pés,

Se rires - rio, se chorares - choro,

E bebo o pranto que banhar-te a tez.

 

Dá-me em teus lábios um sorrir fagueiro,

E desses olhos um volver, um só;

E verás que meu estro, hoje rasteiro,

Cantando amores se erguerá do pó!

 

Vem reclinar-te, como a flor pendida,

Sobre este peito cuja voz calei:

Pede-me um beijo... e tu terás, querida,

Toda a paixão que para ti guardei

 

Do morto peito vem turbar a calma,

Virgem, terás o que ninguém te dá;

Em delírios d'amor dou-te a minha alma,

Na terra, a vida, a eternidade - lá!

 

IV

Se tu, oh linda, em chama igual te abrasas,

Oh! não me tardes, não me tardes, - vem!

Da fantasia nas douradas asas

Nós viveremos noutro mundo - além!

autor: Casimiro de Abreu

Horas Tristes



Eu sinto que esta vida já me foge
Qual da harpa o som final,
E não tenho como o náufrago nas ondas
Nas trevas um fanal!
Eu sofro e esta dor que me atormenta
É um suplício atroz!
E pra contá-la falta à lira cordas
E aos lábios meus a voz!
Às vezes no silêncio da minha alma,
Da noite na mudez,
Eu crio na cabeça mil fantasmas
Que aniquilo outra vez!
Dói-me inda a boca que queimei sedento
Nas esponjas de fel,
E agora sinto no bulhar da mente
A torre de Babel!
Sou triste como o pai que as belas filhas
Viu lânguidas morrer,
E já não pousam no meu rosto pálido
Os risos do prazer!
E, contudo, meu Deus! Eu sou bem moço,
Devera só me rir,
E ter fé e ter crença nos amores,
Na glória e no porvir!
Eu devera folgar nesta natura
De flores e de luz,
E, mancebo, voltar-me pro futuro
Estrela que seduz!
Agora em vez dos hinos de esperança,
Dos cantos juvenis,
Tenho a sátira pungente, o riso amargo,
O canto que maldiz!
Os outros, - os felizes deste mundo,
Deleitam-se em saraus;
Eu solitário sofro e odeio os homens,
Pra mim são todos maus!
Eu olho e vejo... - a Veiga é de esmeralda
O céu é todo azul.
Tudo canta e sorri... Só na minha alma
O lodo dum paul!
Mas se ela - a linda filha do meu sonho,
A pálida mulher
Das minhas fantasias, dos seus lábios
Um riso, um só me der;
Se a doce virgem pensativa e bela,
- A pudica vestal
Que eu criei numa noite de delírio
Ao som da saturnal;
Se ela vier enternecida e meiga
Sentar-se junto a mim;
Se eu ouvir sua voz mais doce e terna
Que um doce bandolim;
Se o seu lábio afagar a minha fronte
- Tão fervido vulcão!
E murmurar baixinho ao meu ouvido
As falas da paixão;
Se cair desmaiada nos meus braços
Morrendo em languidez,
De certo remoçado, alegre e louco
Sentira-me talvez!...
Talvez que eu encontrasse as alegrias
Dos tempos que lá vão,
E afogasse na luz da nova aurora
A dor do coração!
Talvez que nos meus lábios desmaiados
Brilhasse o seu sorrir,
E de novo, meu Deus, tivesse crença
Na glória e no porvir!
Talvez minha alma ressurgisse bela
Aos raios desse sol,
E nas cordas da lira seus gorjeios
Trinasse um rouxinol!
Talvez então que eu me pegasse à vida
Com ânsia e com ardor,
E pudesse aspirando aos seus perfumes
Viver do seu amor!
Pra ela então seria a minha vida,
A glória, os sonhos meus;
E dissera chorando arrependido:
- Bendito seja Deus! -
Abril – 1858
Autor: Casimiro de Abreu

Canção do Exílio

 Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
 Meu Deus! Não seja já;
 Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
 Cantar o sabiá!
 Meu Deus, eu sinto e tu bem vês que eu morro
 Respirando este ar;
 Faz que eu viva Senhor! Dá-me de novo
 Os gozos do meu lar!
 O país estrangeiro mais belezas
 Do que a pátria, não tem;
 E este mundo não vale um só dos beijos
 Tão doces duma mãe!
  
Dá-me os sítios gentis onde eu brincava
Lá na quadra infantil;
Dá que eu veja uma vez o céu da pátria,
O céu do meu Brasil!
Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! Não seja já!
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!
Quero ver esse céu da minha terra
Tão lindo e tão azul!
E a nuvem cor de rosa que passava
Correndo lá do sul!
Quero dormir à sombra dos coqueiros,
As folhas por dossel;
E ver se apanho a borboleta branca,
Que voa no vergel!
Quero sentar-me à beira do riacho
Das tardes ao cair,
E sozinho cismando no crepúsculo
Os sonhos do porvir!
Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! Não seja já;
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
A voz do sabiá!
Quero morrer cercado dos perfumes
Dum clima tropical,
E sentir, expirando, as harmonias
Do meu berço natal!
Minha campa será entre as mangueiras
Banhada do luar,
E eu contente dormirei tranquilo
À sombra do meu lar!
As cachoeiras chorarão sentidas
Porque cedo morri,
E eu sonho no sepulcro os meus amores
Na terra onde nasci!
Se eu tenho de morrer na flor dos anos,
Meu Deus! Não seja já
Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde,
Cantar o sabiá!

Lisboa — 1857
Autor: Casimiro de Abreu 

Folha Negra


Folha Negra

Sinhá,
Um outro mancebo
Alegre, poeta e crente,
Soltara um canto fervente
De amor talvez! - de alegria,
E aqui nas folhas do livro
Deixara - amor e poesia.

Mas eu que não tenho risos
Nem alegrias tão pouco,
Nem sinto esse fogo louco
Que a mocidade consome,
Nas brancas folhas do livro
Só posso deixar meu nome!

É triste como um gemido,
É vago como um lamento;
- Queixume que solta o vento
Nas pedras duma ruma
Na hora em que o sol se apaga
E quando o lírio s'inclina!...

Grito de angústia do pobre
Que sobre as águas se afoga,
Cadáver que bóia e voga
Longe da praia querida,
Grito de quem n'agonia
- Já morto - se apega à vida!

Vozes de flauta longínqua
Que as nossas mágoas aviva,
Soluço da patativa,
Queixume do mar que rola,
Cantiga em noite de lua
Cantada ao som da viola!...

Saudades do pegureiro
Que chora o seu lar amado,
- Calado e só - recostado
Na pedra dalgum caminho...
Canção de santa doçura
Da mãe que embala o filhinho!...

Meu nome!... É simples e pobre
Mas é sombrio e traz dores,
- Grinalda de murchas flores
Que o sol queima e não consome...
- Sinhá!... das folhas do livro
É bom tirar o meu nome!...


Autor: Casimiro de Abreu

Biografia de Casimiro de Abreu



DADOS BIOGRÁFICOS

Casimiro José Marques de Abreu, filho de um português comerciante e dono de terras no Rio de Janeiro, nasceu em 1839 na Barra de São João, R.J. e faleceu no mesmo local em 1860. Estudou Humanidades em Nova Friburgo, curso que não completou, abandonando para se dedicar ao comércio junto com o pai. Fato esse que o deixou bastante deprimido. Viajou para Lisboa, lugar onde viveu entre os anos de 1853 e 1857 e viu sua peça "Camões e o Jau" obter um certo êxito. De volta para o Brasil, no ano de 1859, assistiu seu único livro de poesias, "Primaveras", ser publicado às custas do apoio financeiro paterno. Morre um ano depois, vítima de tuberculose, na fazenda de sua família.


Características Literárias

Sua poesia é das mais populares e mais lidas pelo povo brasileiro, Meus Oito Anos [ver Antologia], por exemplo, mesmo não sendo das melhores dentre seus contemporâneos. Sua popularidade se deve à linguagem simples, terna, cativante e de leitura fácil que o poeta empregou para cantar os temas mais comuns do Romantismo. O amor expresso em seus poemas é sempre impossível, delicado, platônico e idealizado, entrando em atrito com a pureza, a paixão contida e o receio de corresponder e se entregar à mulher amada.
Sua obra, aliás, é quase toda tomada pelo tormentoso conflito entre o desejo e o medo, a realidade perturbadora e a pureza da infância, da natureza e dos sonhos, gerando a tristeza, a melancolia e o depressivo desejo de morte. A saudade também é largamente cantada em seus versos, acentuando desde as dores da distância da pátria e da família, até a distância da infância, onde o poeta lamenta a pureza e os sonhos perdidos. A obra de Casimiro de Abreu, no entanto, carece de uma linguagem mais rica e um estilo mais criativo, aprofundado.
Sua poesia, entretanto, agradou muito a leitores menos exigentes e donzelas ávidas por palavras e versos de amor, mas nunca chegou a ter a riqueza de imagens que encontramos nos poemas mais fecundos de Gonçalves Dias e Castro Alves. Tão pouco se aproxima dos versos mais irônicos e satânicos, mas não menos ingênuos, de Álvares de Azevedo. Sua virtude está em exprimir e traduzir de uma forma pura e delicada todos os sentimentos e emoções mais latentes de um povo que ainda cantava as glórias da independência e a grandeza da pátria, o que lhe atribuiu fama e popularidade fácil.